Em audiência na Câmara, Gilberto Carvalho afirmou que o governo está aberto ao diálogo e que a Política Nacional de Participação Social apenas regulamenta a atuação de instâncias que já existem, sem invadir as competências do Legislativo; deputado Fernando Ferro propõe debate em comissão geral.
O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse que o governo está aberto ao diálogo em relação ao decreto presidencial (Decreto 8.243/14) que cria a Política Nacional de Participação Social e o Sistema Nacional de Participação Social.
Na última quarta-feira (6), durante audiência pública da Comissão de Participação Legislativa (CLP) da Câmara dos Deputados, Carvalho disse que a polêmica levantada no Congresso Nacional em torno do decreto surpreendeu o governo.
Criada em maio, essa política regulamenta o funcionamento de conselhos populares, o que gerou críticas por parte de parlamentares que consideram que esses conselhos se sobrepõem ao trabalho do Legislativo, a quem cabe constitucionalmente fiscalizar e controlar as políticas públicas.
“Da nossa parte, há uma verdadeira insistência no diálogo, e não poderia ser diferente em se tratando de um decreto, de uma iniciativa que trata exatamente da participação social. Não esperávamos essa reação, uma vez que considerávamos que esse decreto se tratava de uma iniciativa bastante tímida, eu diria, de simplesmente arrumar a casa. De simplesmente estabelecer alguns dispositivos de uma realidade já existente no governo brasileiro, felizmente”, afirmou Carvalho.
O ministro se referiu aos mais de 30 conselhos existentes no País, como o Conselho Nacional de Saúde e o da Educação. Ao rebater críticas de que o decreto invade as competências do Legislativo, Carvalho disse que esses conselhos populares representam importante canal de comunicação do governo com a sociedade e lembrou que todos foram aprovados pelo Congresso.
Gilberto Carvalho também comentou o projeto (PDC 1491/14) apresentado pelos deputados do DEM Mendonça Filho (PE) e Ronaldo Caiado (GO), que anula a criação da política nacional. Segundo ele, derrubar esse decreto representa um risco de o Congresso ir contra os anseios da sociedade. Ele considera que é preciso combinar a democracia representativa com a participativa, e acrescentou que, para fortalecer esse modelo de participação popular, ainda é necessário aprovar uma reforma política, com destaque para o fim do financiamento privado das campanhas.
Comissão geral
Durante a reunião, o deputado Fernando Ferro (PT-PE) lamentou a ausência no encontro de parlamentares contrários ao decreto. Ele anunciou que vai formalizar pedido para a realização de uma comissão geral para discutir a questão.
A proposta que derruba o decreto estava na pauta do Plenário nesta semana de esforço concentrado, mas a falta de acordo e o baixo quórum levaram os líderes partidários a apenas iniciarem a discussão.
Para Fernando Ferro, o debate deve ser ampliado. “Frente à resistência que existe aqui de parlamentares contrários ao decreto, achamos que a melhor maneira de explicitar essas divergências é permitir uma comissão geral, onde entidades da sociedade civil possam debater com os parlamentares e se possa trazer à luz essas divergências”, ressaltou.
Sociedade civil
Representantes de entidades civis, como a Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), o Instituto de Estudos Socioeconômicos e a Comissão Brasileira de Justiça e Paz, manifestaram apoio ao decreto e a uma reforma política.
André Luís dos Santos, que representou o Diap na audiência pública, considera que não é verdade que os conselhos poderiam usurpar as competências do Congresso Nacional. Para Santos, há um “desnível na representatividade” no Legislativo, o que ele exemplicou com uma comparação entre a bancada sindical na Câmara, que tem 72 deputados, e a empresarial, com 246. Ele destacou ainda que negros e mulheres também são sub-representados.
Santos disse que é preciso criar mecanismos para que esses conselhos possam funcionar e ser consultados pelo Legislativo, e que o decreto funciona nesse sentido.
Marcelo Lavennère, da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, ressaltou que o decreto atende a uma preocupação mundial em salvar a democracia. Segundo ele, apesar de todos poderem votar e ser votados na democracia, ela não foi capaz de proporcionar transporte, educação e saúde de qualidade para a população.
Lavennère avalia que há uma fratura no sistema pelo qual são realizadas as eleições, e o decreto é um meio para recuperar a democracia.
Tanto Lavennère como Santos defenderam uma reforma política e o financiamento público de campanhas nas eleições.
Íntegra da proposta: PDC-1491/2014
Fonte: Agência Câmara Notícias