“ENCONTRO DAS ESCOLAS CATÓLICAS DO RIO DE JANEIRO
12 DE MAIO DE 2018
Abertura
(Saudações de boas–vindas)
Cardeal Orani João Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro
É para mim motivo de grande satisfação dar as boas-vindas aos representantes de nossas escolas católicas, que hoje se reúnem neste “Dia ANEC” para ”Discutir a Educação Contemporânea”.
Esta ocasião de congraçamento, reflexão de troca de experiência tem sempre um cunho fraterno de unidade em torno dos ideiais que a educação católica defende. Porém, a temática escolhida para a reunião de hoje reveste se sobretudo de particular gravidade e urgência, diante da realidade que vivemos.
Tudo aquilo que exige mudança, desde aspectos da vida pessoal de cada um, até estruturas e relações sociais, precisa passar por um processo de aprendizagem. As pessoas ligadas à educação representam elementos propulsores desses processos, que podem culminar em novas maneiras de pensar e de agir. Portanto, se queremos uma sociedade melhor, temos que começar pela educação.
No breve tempo dessa abertura do encontro, gostaria de compartilhar como todos aqui presentes algumas preocupações da Igreja relacionadas ao tema desta manhã. Embora sejam questões amplamente conhecidas, precisamos retornar frequentemente a elas, de modo que não caiam na acomodação.
Destaco, assim, alguns desafios para os quais peço sua permanente atenção. Eles foram extraídos do documento da Congregação para a Educação Católica, certamente muito conhecido por todos, e que tem por título: “Educar hoje e amanhã, uma paixão que se renova”, publicado em 2014. Escolhi este documento justamente porque trata de “renovação”, que é a maneira de manter vivo e permanente nosso empenho por este trabalho.
Permitam me, então, citar os desafios que se apresentam às escolas católicas:
- O desafio da identidade: É urgente redefinir a identidade da escola católica para o século XXI.
- O desafio da comunidade escolar: Diante do individualismo, que consome a nossa sociedade, é cada vez mais importante fazer com que a escola católica seja uma verdadeira comunidade de vida animada pelo Espírito Santo.
- O desafio do diálogo: O mundo, na sua pluralidade, espera mais do que nunca ser orientado para os grandes valores do homem, da verdade, do bem e da beleza. Esta é a perspectiva que a escola católica deve assumir em relação aos jovens, através da estrada do diálogo.
- O desafio da sociedade da aprendizagem: Não se deve esquecer que a aprendizagem não se verifica totalmente na escola.
- O desafio da educação integral: Educar é muito mais do que instruir.
- O desafio da carência de meios e de recursos: As escolas não subsidiadas pelo Estado conhecem as dificuldades financeiras crescentes para garantir o serviço aos mais pobres num momento marcado por uma profunda crise econômica e na qual a opção pelas novas tecnologias é inevitável, mas custosa.
- Desafios pastorais: Uma parte crescente dos jovens distancia-se da Igreja Institucional. A ignorância ou o analfabetismo religioso crescem. A educação católica é uma missão contra essa corrente.
- O desafio da formação religiosa dos jovens: Em alguns países, os cursos de religião católica estão ameaçados, correm o risco de desaparecer do currículo escolar.
- Os desafios específicos para uma sociedade multirreligiosa e multicultural: O multiculturalismo e a multirreligiosidade dos alunos, que frequentam as escolas católicas, interpelam todos os responsáveis do serviço educativo. Quando a identidade das escolas enfraquece, emergem numerosos problemas ligados à incapacidade de interagir com esses novos fenômenos.
- O desafio da formação permanente dos professores: Num contexto cultural desse tipo, a formação dos professores é determinante e exige um rigor e um aprofundamento, sem os quais o seu ensino seria considerado pouco credível, pouco confiável e por isso não necessário.
- Os lugares e o recursos dessa formação: Quem pode garantir este tipo de formação? Podem-se identificar alguns lugares dedicados a esta função? Onde podemos encontrar os formadores para este tipo de ensino?
- Alguns desafios de ordem jurídica: Existe uma forte tendência de alguns governos em marginalizar a escola católica com toda uma série de regras e leis que, por vezes, não respeitam a liberdade pedagógica das escolas católicas.
Reconheço, evidentemente, que não seria possível discutir tantos e tão profundos temas em apenas algumas horas de encontro. No entanto, repito que a sua importância merece que sejam frequentemente revisitados, tanto na leitura pessoal como na discussão em grupos.
Diante destes imensos desafios, lembremo-nos de que está em nossas mãos gravíssima missão de prosseguir semeando os valores do Evangelho em todos os campos e níveis da educação, para que não se percam os ideias que recebemos e pelos quais muitos ofereceram sua dedicação, seu esforço e até a própria vida.
Em síntese, recordo o que a Congregação para a Educação Católica afirma sobre a contribuição a ser dada à sociedade, e que é, afinal de contas, responsabilidade de todos nós:
“A educação católica, com as suas numerosas escolas e universidades espalhadas pelo mundo, dá um contributo relevante às comunidades eclesiais comprometidas na nova evangelização, e contribui também para que as pessoas e a cultura assimilem os valores antropológicos e éticos que são necessários para construir uma sociedade solidária e fraterna.”
O Espírito Santo, cuja vinda a igreja se prepara para celebrar, seja o artífice de seus trabalhos, a fim de que tenham um proveitoso e agradável encontro!”