Uma em cada cinco pessoas no mundo sofre com algum tipo de transtorno mental, como depressão, esquizofrenia ou bipolaridade. Esses problemas atingem a população desde muito cedo, em 50% dos casos antes dos 14 anos de idade.
A precocidade é justificativa para uma ideia que foi discutida nesta quarta-feira (29) na Câmara dos Deputados: a de capacitar professores em todo o País a lidar com alunos que deem sinais de algum problema de saúde mental, a fim de prevenir que se desenvolvam e até incapacitem pessoas para o estudo ou o trabalho.
Foi o que defendeu o psiquiatra e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Rodrigo Bressan. Coordenador do Projeto Cuca Legal, da universidade, que desenvolve pesquisas e programas junto a escolas no estado de São Paulo, Bressan participou do ciclo de palestras Educação em Debate, promovido pela Frente Parlamentar Mista da Educação, com apoio da Comissão de Educação da Câmara.
Segundo Bressan, os professores entram na história como agentes fundamentais nesse processo, por conviverem de perto com crianças e adolescentes e compará-los uns com os outros. “Quando o professor entende melhor [os transtornos], ele entende melhor os alunos. Com isso, ele pode identificar alunos que podem ter problema e orientar um encaminhamento. Podem também identificar gente que simplesmente tem um problema de comportamento, de aprendizado, em vez de déficit de atenção. Muitas vezes, essas coisas são confundidas”, defendeu.
Ele explicou que, identificado o transtorno, a pessoa pode ser encaminhada para um tratamento precoce e eficaz, que muitas vezes pode ser simples e se resumir a mudar o ambiente de estudo ou de trabalho ou mesmo a sessões de meditação ou psicoterapia, sem a necessidade de medicamentos.
O problema é que muitas vezes são os próprios professores que enfrentam problemas de saúde mental. Em São Paulo, 40% dos afastamentos de docentes são devidos a um transtorno psiquiátrico. Daí a importância, segundo Rodrigo Bressan, de falar mais abertamente sobre o assunto, envolvendo toda a sociedade. “Não se trata de loucura, são problemas de saúde tratáveis. A melhor estratégia para diminuir estigma é começar da base”, reforçou.
O coordenador da Frente da Educação, deputado Alex Canziani (PTB-PR), também defendeu a expansão de programas como o Cuca Legal para todo o Brasil. “Nós vamos falar com o Ministério da Educação e o da Saúde para que possamos fazer um grande programa voltado para o atendimento da escola e da sociedade como um todo”, disse.
PEC 170/15
Canziani é autor de uma proposta de emenda à Constituição (PEC 170/15) que determina que os concursos públicos passem a avaliar também o perfil emocional dos candidatos. “Hoje os concursos públicos avaliam provas e títulos. Mas eu acredito que a questão emocional tem um papel fundamental. Cada cargo tem um perfil diferenciado e, às vezes, a pessoa não tem o perfil para aquele cargo”, avaliou o parlamentar.
A PEC aguarda análise da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania quanto à admissibilidade.