O ensino e a prática religiosa dentro das escolas ainda é um assunto que levanta discussões entre pais e filhos na hora de decidir onde estudar. De acordo com a Lei nº 2.230, de 31 de dezembro de 1998, tornou-se obrigatório o ensino religioso em escolas públicas de ensino fundamental e médio, respeitando-se a condição de matrícula facultativa. “Estamos em uma cidade cosmopolita, de grande diversidade religiosa. É preciso dar espaço a discussões sobre esse assunto dentro de sala de aula”, explica Rafael Maia, professor de filosofia.
Maia explica que as aulas devem fazer parte de um processo aberto de debater religiões, e não apenas o cristianismo. “Se eu tivesse que escolher um colégio, certamente procuraria alguma escola que faz esse tipo de trabalho.
O problema é que muitos pais não querem que os filhos se envolvam ou tenham contato com outras crenças.” Segundo Agnaldo Cuócco, professor da Universidade de Brasília e doutor em filosofia da religião, o tratamento dado a esse tipo de disciplina deve ser voltado a uma vertente mais acadêmica, suprindo até aqueles que não tem religião ou crenças próprias. “Acredito ser fundamental para qualquer pessoa, até para que se entenda a cultura onde estão inseridos e como se deu a formação religiosa da sociedade. Creio que o ensino religioso tenha um grande valor cultural, político e ético.”
Cuócco explica que religião é um assunto que precisa ser tratado com muita cautela, ainda mais dentro de sala de aula. “A dificuldade em tratar do tema está em proporção direta à sua importância. No entanto, no que diz respeito à centralidade desse assunto, ele não pode ser deixado de lado. Acredito que exista uma dificuldade natural, visto que há uma restrição muito grande em torno do acesso a outras religiões.” Quando questionado sobre o espaço que outras crenças possuem dentro de sala de aula, o professor da UnB diz que é natural que o cristianismo seja estudado em proporções maiores que as demais, considerando que a formação cultural do Brasil advém fundamentalmente de ideologias cristãs.
Para Agnaldo, é razoável que o ensino religioso seja menos fundamental que outras disciplinas, porém acredita que existe uma possibilidade de integração com outras matérias cujo resultado seria mais positivo que estudos isolados. “Penso que dessa forma há mais chances de agregar conhecimento tanto na sala como na vida. Acho que dá mais concretismo, fornece uma maior capacidade de absorção, de cognição. Por exemplo, entender o contexto das repreensões feitas a Galileu, quando ele foi proibido de ensinar, sob as perspectivas históricas e religiosas.”
Amanda Marques, 17 anos, aluna do terceiro ano do ensino médio, é espírita e estuda em uma escola que possui crenças cristãs. Apesar das diferenças entre as doutrinas, ela afirma que o método praticado durante as aulas de religião colabora para um conhecimento maior dos alunos acerca de outras religiões. “Me tornei uma pessoa mais tolerante, aumentei minha consciência política, meu respeito e minha capacidade de diálogo. Não sou obrigada a participar das atividades extraclasse e não me incomodo de escutar os sermões, que normalmente são a respeito de temas como ética, cidadania.”
Para Amanda, um dos pontos fundamentais para uma boa discussão é que o professor se mantenha imparcial dentro de sala. “Isso é muito importante. Se não fosse assim, acho que as pessoas não se sentiriam tão à vontade e a informalidade da aula seria prejudicada.”, afirma. Rafael Maia pensa que o ensino religioso não deve ser visto como algo doutrinário, mas sim aberto à diversidade e à participação de todos, inclusive dos pais. “Vejo que a filosofia, sendo empregada em várias áreas do conhecimento, tem grande papel para abrir as ideias, aumentando o respeito e o espaço para diversidades dentro de sala de aula.”
Com informações de Mateus Vidigal
Fonte: Correio Braziliense