O Brasil é o país emergente que menos abriga estudantes de outros países, segundo o relatório “Brics: construir a educação para o futuro” divulgado na segunda-feira (22) pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O estudo compara os esforços dos cinco países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para melhor a qualidade da educação e reduzir a desigualdade. No quesito mobilidade estudantil internacional, o Brasil é o penúltimo em número de estudantes enviados para cursos no exterior, e o último em relação à quantidade de estudantes estrangeiros recebidos.
O número de brasileiros estudando fora era de 30.729 no período analisado pela Unesco (entre 2011 e 2012), acima apenas da África do Sul, que tinha 6.378 alunos estudando no exterior no mesmo período. A Rússia enviou 51.171 estudantes, a Índia tinha 189.472 estudantes fora do país e a China mandou 694.385 pessoas para estudarem fora.
A contrapartida – o número de estrangeiros estudando em cada um desses países– brasileira ainda é pequena: 14.432 estudantes de outros países estavam matriculados em cursos no Brasil. A quantidade é entre três e dez vezes menor que a realidade dos demais Brics: a Índia recebeu 31.475 estudantes, a África do Sul era o país de intercâmbio de 70.428 alunos estrangeiros, a China havia abrigado 88.979 estudantes e a Rússia tinha 173.627 estrangeiros estudando em suas escolas, diz a Unesco.
O braço da ONU para políticas de educação diz que a internacionalização da educação superior fez dobrar o número de estudantes no mundo que buscam fazer a graduação em outro país, e que a participação dos Brics tanto no envio quando na recepção de intercambistas vem aumentando.
“A China e a Índia são os países que enviam o maior número de estudantes para o exterior, com o Brasil e a Federação Russa também enviando números significativos. Em 2011, o governo brasileiro lançou o programa Ciência sem Fronteiras, que visa a oferecer 100 mil bolsas de estudo para brasileiros estudarem em instituições de elite no exterior, nos campos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) até 2015”, afirmou o relatório.
Segundo a Unesco, “o principal desafio enfrentado pelos Brics consiste em estabelecer políticas públicas que possibilitem a seus sistemas de educação superior absorver a demanda em expansão, enquanto fornecem alta qualidade de educação a uma população crescente e diversificada de estudantes”.
Financiamento
Entre 1999 e 2012, o Brasíl foi o emergente que mais aumentou a porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) destinada à educação. O valor subiu de 3,9% para 5,8% e, em 2012, foi menor apenas que a fatia do PIB que a África do Sul investe no setor (6,6%). A Rússia destinou 4,1% do seu PIB à áreas em 2012, seguida pela China (3,7%, segundo dados de 2010) e a Índia (3,4%).
O Brasil também é o membro dos Brics onde o setor de ensino privado é o que mais detém matrículas no ensino superior. Segundo a Unesco, 71,4% das matrículas nesse nível estavam na rede particular. Na Rússia, por exemplo, essa porcentagem cai para 13,7%.
“Todos os cinco países consideram o desenvolvimento de sistemas de ensino superior mundialmente competitivos como prioridade número 1 para a consolidação de sua posição emergente. Um desafio consiste em criar centros de excelência e, ao mesmo tempo, fornecer educação superior em larga escala”, afirmou o relatório.
No ensino secundário (ensino médio), embora a grande maioria das matrículas em todos os Brics estejam na rede pública, o Brasil também é o que mais tem participação da rede privada. Ela responde por 15% das matrículas, mais que na China (11%), na África do Sul (4%) e na Rússia (0,9%). Os dados da Índia não estão disponíveis, segundo o estudo.
Os dados mostram ainda que, em todos os países, a educação infantil é onde há maior concentração de matrículas no ensino privado, mas que os governos têm tentado mudar isso ao investir mais nesse nível de ensino. A privatização da educação, segundo a Unesco, é um dos desafios do combate à desigualdade nos emergentes e o resultado é que as crianças mais desfavorecidas são “as que mais sofrem com a educação escolar de baixa qualidade”.
Fonte: G1