Filha de um agricultor e de uma dona de casa, que não sabiam ler nem escrever, Maria Eneide assistia aquelas aulas no colo do pai. Ela conta que foi a primeira da turma a aprender as lições, já que ainda era criança. Mas os pais também conseguiram estudar – contavam, inclusive, com a ajuda da filha para entender algum conteúdo ou retomar alguma aula que não puderam assistir.
“Teve muita mudança. Antes, meu pai trabalhava em sítio. Foi trabalhar de pedreiro e depois teve comércio”, conta. “Minha mãe, que era só do lar, foi fazer curso de corte e costura. Para minha vida foi determinante aquele passo. Eu dizia que queria ser a professora Valquíria [da turma de alfabetização]. Cresci alimentando esse sonho de ser professora e tornei-me uma”. Maria Eneide lembra que, além da própria alfabetização, as lições de política e cidadania ensinadas no curso foram essenciais. Hoje, duas de suas cinco filhas seguiram seus passos e também são professoras.
Metodologia – O método se diferenciava por trabalhar com palavras que faziam parte da realidade dos alunos, como tijolo ou cimento, por exemplo. Além disso, se propunha a debater a situação de vida dos estudantes e, a partir daí, dar-lhes consciência crítica e autonomia. A primeira experiência ficou conhecida como as 40 horas de Angicos; esse era o tempo total em que o método era aplicado.
Para o secretário de Educação Básica do Ministério da Educação, Rossieli Soares da Silva, o método Paulo Freire é revolucionário porque o autor acreditava que a educação proporciona os meios para transformar as pessoas e a sociedade numa escala global. “A educação também é uma luta. Uma luta diária. E diante dessa visão que Paulo Freire tinha sobre o mundo, conseguiu ter a fina sensibilidade de que a alfabetização tinha que ocorrer a partir da realidade do alfabetizando e não por métodos impostos, que não conversavam com o aluno”, destaca.
Rossieli lembra que o educador considerava a educação uma batalha para ajudar todas as pessoas a conquistarem a felicidade. “Para Paulo Freire, o objetivo da educação e a missão dos professores são, acima de tudo, capacitar os estudantes a se tornarem felizes a partir da sala de aula. Por isso, mesmo após décadas, esta metodologia é e será contemporânea, pois a educação é uma grande batalha para assegurar e propagar os princípios da dignidade humana”, ressaltou.
Fonte: MEC