Pe. Nelito Drnelas
”O Espírito de Deus age na água, dorme na pedra, sonha na flor, sente no animal, pensa o que sente no homem, sente o que pensa na mulher”
Constatamos que cada vez mais a Bíblia torna-se conhecida e amada, marca presença, é um livro nosso, conservado com carinho. O povo, geralmente, não tem livros em casa, mas a Bíblia está lá, mesmo nas casas mais humildes ela está presente.
Os círculos bíblicos continuam animados. Muita gente participa dos grupos bíblicos, basta anunciá-los, e eis que as pessoas se interessam, gostam, conversam, discutem, querem entender, querem ter uma opinião. A religiosidade popular vai sendo marcada pela Bíblia. Este livro é um novo componente no dia -a -dia da religião.
Na verdade isso é recente, coisa de poucos anos. No passado não era assim. As pessoas tinham outros referenciais para expressar a fé. A redescoberta da Bíblia entre os católicos e a aparição do ”povo da Bíblia”, nossos irmãos pentecostais, fizeram da bíblia um livro popular.
E a Bíblia tornou-se para nós um desafio. Como entendê-la? Como praticá-la? Afinal, a Bíblia não salva. Ë Deus quem salva, liberta-nos das servidões, constrói a vida pela liberdade. Um livro não salva, e isso é evidente. Como letras, como papéis teriam capacidade de salvar e converter corações? Se assim fosse, se a Bíblia fosse ela mesma salvadora seria idolatria. Ainda se ela não salva, nos ensina a ver. A bíblia é como se fosse nossos olhos, mostra-nos o caminho e dá direção a nossos pés. Tua palavra é lâmpada para meus pés e luz para o meu caminho.
DESAFIANDO A VER
Nós lemos para ver! Nossa Bíblia é mesmo luz. Afinal, ela testemunha a luz, a presença de Deus em nossas vidas. Nossa luz é Jesus. Por isso vamos á Bíblia para tentar ver melhor. Nós só vemos melhor, se os óculos que colocamos diante dos olhos, realmente são bons e adequados a nós. Confia-se na qualidade destes óculos chamados Bíblia.
Colocando papel diante de seus olhos, acaba não vendo nada. A Bíblia precisa ser vidro, lentes que nos ajudam a ver melhor as coisas de nossa vida. Apesar dela ser vidro, se você ”vidra” vai acabar vidrado, estupefato como se a Bíblia fosse tudo. Isso é idolatria. Ficar vidrado nas coisas, nos papéis, enfim, em qualquer coisa deste mundo. A Bíblia é vidro, é lente, é passagem. Ë um ponto de ônibus. Ali você espera a condução, mas não tem a sua casa. Você não vai querer morar num ponto de ônibus. Mas é lá que você pega a condução pra sua casa. Se você pega a condução errada, não chega em casa fica perdido. Bíblia é um livro pra aprender a pegar o ônibus certo que o leva para casa. Por isso ela ensina a ver as placas, os letreiros, a direção. Ajuda a ter sensibilidade para o rumo das coisas e da vida. Isso significa que a confiamos na Bíblia, nas coisas que ela nos permite ver e ler, confia nos seus conteúdos: Se você desconfia do letreiro do ônibus, como vai querer chegar em casa? Não há jeito! Na incerteza, você ainda pode perguntar a outros: ‘Este ônibus vai para onde? ‘ E aí você terá que confiar no que o outro lhe disser. Terá que crer.
VER EM GRUPO – A Bíblia nos reúne para ver melhor
Ver é coisa muito pessoal. Cada pessoa vê de um jeito. Por isso, este mundo é tão bonito, pois cada um vê de seu modo. Aí é que está a graça, a beleza. Deus não nos fez uniformes. Criou diversidades. A beleza de Deus está neste colorido. Daí que vem o calor do círculo bíblico. É que assim a Bíblia fica bonita. Em grupo ela toma seu gosto.
Quando quero ver uma paisagem, vou a um lugar especial. Para ter uma visão ampla é preciso ir a um local que me permita esta vista, esta visão. Se você quer ver toda Rio de Janeiro tem que subir ao Pão de Açúcar. De lá você tem uma vista impressionante. Então, o ponto de vista é a questão!
Na leitura da Bíblia em grupo, o círculo bíblico é a “torre de observação” o “Pico mais alto”, o Pão de Açúcar. Lá é que a Bíblia dá gosto. Extasia. Vira sagrada.
O sagrado que nos habita
O interesse pela Bíblia não se dá por acaso. É que fé e religião são experiências tão bonitas, que poucas são as pessoas que querem desistir de entrar neste mundo tão maravilhoso, fantástico. Poucos são os que se negam a este mistério, ao religioso, ao místico.
É que o mistério é parte de cada um de nós. É um dos direitos humanos.
Pela Bíblia, este sagrado chega bem pertinho de cada um. Ali, naquelas letras você fica bem pertinho de Moisés, abrindo o mar para que por ele passe o grupo dos libertos e eleitos. Fica pertinho de Jesus, caminhando com Ele maravilhosamente sobre as águas. Vamos experimentando o que Jesus experimentou. Já vamos olhando, nós por nós, para dentro dos mistérios últimos.
Não é por acaso que as igrejas estejam em crise. A Bíblia é a crise das igrejas!
A Bíblia é nossa luz no dia-a-dia. Quem quer assim dominar do pedestal das estruturas religiosas, ‘dançou’. A Bíblia na mão e no coração é crise, sem fim, para autoritários e autoritarismos.
É verdade, tudo isso vem misturado ainda a muitos retrocessos que também mediante a própria Bíblia por aí se produzem. É que na cultura as coisas não vão pra frente, tecnologicamente. Na cultura a vida é movimento, não progresso.
O Ecumênico na Bíblia
Dizem que tudo tem o seu tempo. Quando fomos à Bíblia, com aquela imensa sede de quem re-descobre este maravilhoso livro em meio às dores e alegrias de nosso povo, vínhamos cheios de igreja. Assim, as coisas das igrejas nos foram empurrando para as folhas da Bíblia. Sem dúvida, essa foi nossa trajetória. Mas, ao chegar, a festa era outra, bem melhor do que imaginávamos. Surpresa. Beleza!
Não deparamos com as igrejas na Bíblia! Não deparamos com nossas estruturas denominacionais. Não deparamos com nós mesmos.
Descobrimos que aquele velho livro estava cheio de histórias, cenas, cantos, rezas que nem mais conhecíamos. Abriram-se para nós paisagens com as quais nem mesmo sonhávamos.
A Bíblia se mostra a nós ecumênica, transcende as igrejas, vai além das religiões. Nossa Bíblia é maior que o Cristianismo. E agora? Façamos da bíblia o lugar onde mora esperança e nos aponta os caminhos da libertação.