Já somam quatro décadas desde que o Aedes aegypti voltou a constar nos índices de arboviroses no Brasil, após ser erradicado por duas vezes. De lá para cá, a situação se agravou de forma inversamente proporcional aos avanços no combate ao mosquito, responsável por transmitir, atualmente, os vírus da dengue, da zika e da chikungunya.
Diante de um cenário obscuro em relação ao controle das doenças e com maior índice de foco do mosquito dentro das residências, o grito de socorro é para a população.
“O que a gente sabe: se é um mosquito que de fato transmite, vamos acabar com ele. Como? protegendo nossa casa”, alerta o biólogo e epidemiologista Luciano Pamplona, da Universidade Federal do Ceará (UFC), que estuda o Aedes há décadas.
No século passado, o Brasil erradicou o Aedes aegypti nos anos de 1955 e 1973. Três anos depois, o mosquito voltou e nunca mais foi controlado. As críticas recaem sobre a omissão do Governo em tratar os primeiros registros, em ser ineficiente nos planos de controle e em não transformar o combate ao mosquito em educação permanente da população. Aliado a isso, agravaram o problema o crescimento desenfreado dos centros urbanos, sem estrutura de saneamento e abastecimento, principalmente, e a alta capacidade de adaptação do mosquito.
“Conseguimos erradicar, no século passado, quando se tinha uma condição política completamente diferente. O agente da Sucam (Superintendência de Campanhas de Saúde Pública, já extinta) entrava na casa e dizia ‘essa caixa d’água tem foco’ e quebrava a caixa. Era utilizado petróleo na água e inseticidas como o DDT que, hoje, é proibido”, pontua Pamplona.
Ineficiência
Pedro Luiz Tauil, doutor em medicina tropical e ex-diretor Geral do Departamento de Erradicação e Controle de Endemias da Sucam, lembra que não foi só o Brasil que erradicou o Aedes diante de epidemias de febre amarela. “A situação mudou completamente e não é um problema só do Brasil”, frisa.
Métodos que, antes, mostraram eficiência, como a visita de agentes, o uso de inseticidas e larvicidas e o isolamento de doentes, por exemplo, passaram a demandar um volume de atividade quase impraticável. “A inspeção casa a casa é praticamente impossível hoje, na quantidade e na qualidade do serviço. Além de não ter gente suficiente, associa-se ao problema da insegurança. Em muitas casas o agente não consegue entrar”, ressalta Tauil.
“Hoje eu não tenho mais as ferramentas que tinha antigamente. Com a densidade populacional, o mosquito não se movimenta muito, ele fica dentro de uma casa onde tem 10 pessoas para picar. Hoje, eu não posso mais entrar na casa das pessoas e quebrar reservatórios”, destaca Pamplona.
A descontinuidade nas ações do governo e o pouco controle em aplicar programas de erradicação em sua totalidade também são entraves para que o País não consiga vencer o mosquito. “Conheço municípios que fizeram um trabalho extraordinário, mas que perderam com a troca de gestão. As pessoas ainda não entendem que isso é responsabilidade nossa. Acham que o governo tem de vir e limpar a caixa d’água da nossa casa”, pontua o biólogo.
Atualmente, o único elo de controle entre as doenças transmitidas pelo Aedes é o combate doméstico. “O que temos para fazer é evitar o criadouro: telhados, caixa d’água, prato com água, quintais, tudo que possa acumular água”, lembra Tauil.
Fonte: O POVO Online