O último Censo da Educação Superior, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e referente ao ano de 2013, mostra que 7,3 milhões de brasileiros cursam alguma graduação. O número, que representa um aumento de 3,8% em relação a 2012, segue a tendência de crescimento expressivo no dado, iniciado no fim da década de 1990 com a liberação da exploração comercial da educação superior – em 1996, por exemplo, eram cerca de 700 mil os brasileiros matriculados. A expansão, ao mesmo tempo em que possibilita a formação de grandes grupos, como Estácio, Kroton e Laureate, por exemplo, abre espaço também para quem busca o outro caminho, apostando na personalização.
A rápida formação desses grandes conglomerados, sustentada, geralmente, na aquisição de instituições menores, historicamente dominantes entre as faculdades privadas no mercado educacional brasileiro, caminha para uma estabilização, segundo Cosme Massi, presidente do conselho da Hoper Educação, consultoria especializada no setor. “A oferta de instituições que preferiam ser compradas está diminuindo. Faculdades que querem permanecer independentes, confessionais, de nicho ou fundações, que já têm sua tradição e ocupam um espaço bem definido, não vão participar desse processo”, comenta Massi.
O grande potencial das instituições de menor porte, segundo o consultor, reside na maior preocupação dos estudantes com a qualidade da aprendizagem. “Padrões de excelência são difíceis de serem atingidos em grupos muito grandes. Podem até atingir em uma área, mas não no grupo como um todo. E, nas instituições de menor porte, menos engessadas, é mais fácil, também, optar por metodologias alternativas que garantam essa performance de excelência”, acrescenta.
É nessa parcela do mercado, que engloba hoje 2.090 instituições privadas entre as 2.391 existentes no País, que o Grupo A, de Porto Alegre, em parceria com a Hoper, por exemplo, pretende atuar com o recém-lançado sistema Sagah. Aliando o conteúdo gerado pela empresa, que edita e publica livros técnicos há mais de 30 anos, com ferramentas virtuais de ensino, a ferramenta oferecerá aos estabelecimentos um sistema completo de educação à distância (EaD).
“Temos hoje cerca de 1.500 estabelecimentos muito pequenos, com até 2 mil alunos, e eles ainda têm muita dificuldade de se manterem competitivos perto das grandes”, comenta Celso Kiperman, presidente do Grupo A, que projeta uma diminuição de até 90% do investimento das instituições na abertura de cursos com a adoção do sistema, que será remunerado com parcela das mensalidades, sem cobrança inicial.
Com isso, a empresa projeta vender às pequenas instituições a possibilidade de investirem em novas metodologias, que devem ser seu principal diferencial e que, individualmente, dificilmente teriam condições econômicas de bancar. “Estamos oferecendo uma metodologia pedagógica baseada na aprendizagem ativa, em que o aluno é exposto a desafios. Eles têm de aprender como raciocinar, onde buscar informação, como organizar o raciocínio, e não mais em decorar algo, como acontecia geralmente”, defende Kiperman.
O sistema também aposta em uma das principais tendências no mercado, que continua sendo o fortalecimento dos cursos EaD, que cresceram em 10 anos de 49 mil para 1,1 milhão de alunos.
Personalização das instituições educacionais ganha força como diferencial competitivo
Ao concorrerem com grandes conglomerados, é no investimento na qualidade e na personalização que os estabelecimentos menores buscam sua parcela de mercado. Mesmo a Sagah, por exemplo, permitirá às instituições customizarem o currículo a partir de diversos módulos oferecidos.
Há outros estabelecimentos, porém, que investem mais forte em inovação. Lançada em 2013, a 4ED de Porto Alegre, escola de design, oferece, por exemplo, uma metodologia própria que recebeu o nome de “Ensino 4.0”. Baseado em quatro pilares – aprender a fazer, pesquisa, fazer acontecer e ver acontecer – o modelo é a aposta do estabelecimento em diferenciar-se no mercado.
“A nossa questão básica é que o aluno mesmo pode escolher, montar a sua grade, e decidir o que quiser aprender”, defende o fundador da escola, Jandreh Hofstetter. Para isso, a instituição oferece diversos cursos em módulos. Além disso, porém, possibilitam aos alunos, também, espaços de coworking para abrirem seus próprios escritórios, além de uma loja virtual, onde podem vender os produtos que criam nos cursos.
Outras instituições mais tradicionais, como a Castelli, escola superior de hotelaria localizada em Canela, oferecem o que se convencionou chamar de “butique de ensino”. Com cerca de 200 alunos apenas, a instituição vende, além da graduação, a relação próxima com o mercado e o trabalho com os lados emocional e físico dos estudantes, além de aulas em espaços alternativos, como fazendas.
“Isso é possível só porque a gente trabalha com um número pequeno de alunos, e depois que os encaminhamos para o mercado conseguimos acompanhá-los”, comenta a vice-diretora, Silvana Castelli. Dessa forma, a Castelli, que há 15 anos atua nesse modelo, capta aluno de diversas regiões do Brasil e até de países vizinhos.
Fonte: Jornal do Comércio – RS