É irreversível a tendência de aprendizagem a distância, mas o Brasil está atrasado em termos legislativos e práticos no assunto. Essa foi a conclusão dos debatedores que participaram de audiência pública sobre a implementação do ensino online no Brasil realizada pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) nesta quarta-feira (16).
Requerida pelos senadores Cristovam Buarque (PDT-DF) e Cyro Miranda (PSDB-GO), presidente da comissão, a audiência reuniu especialistas em tecnologia e educação para tratar do tema. O professor e assessor do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Formiga, afirmou que o Brasil tem implementado a educação a distância num ritmo muito aquém do necessário.
– Existem casos de sucesso, existem muitos bons exemplos a serem seguidos, mas, comparativamente ao padrão internacional, o Brasil ainda está muitíssimo atrasado – disse.
O atraso do país no uso das novas tecnologias para a educação também foi confirmado pelo consultor em projetos educacionais, Edelvício Souza Júnior. Segundo o consultor, o modelo de escola e de educação brasileiras ainda é o mesmo do tempo de nossos avós.
– Nós vivemos hoje a ‘Geração Z’, em que uma criança nem completou um ano já sabe perfeitamente, da sua maneira, usar um tablete, usar um celular, sem que ninguém precise ensinar. E nós queremos que essa criança também continue estudando com livro didático, preparando-se para fazer provas do modo convencional – argumentou.
Para o assessor do Ministério da Educação, Rubens de Oliveira Martins, o governo quer usar a educação a distância como estratégia no ensino superior até mesmo para alcançar as metas do Plano Nacional de Educação (PNE), como diminuir as desigualdades de acesso a esse nível de ensino.
– E também para atingirmos as metas de expandir o ensino superior em áreas consideradas mais importantes para o país, seja na educação profissional, tecnológica, seja na educação de jovens e adultos e também no caso daqueles que, por questões financeiras, não podem ter acesso – explicou.
Legislação
Formiga criticou o excesso de legislação educacional no país, que, segundo ele, tem 70 mil leis, somando os três níveis: federal, estadual e municipal. Para ele, o excesso de legislação não é sinônimo de qualidade. O professor criticou o PNE, que classificou como perverso na questão da educação a distância. Ele também criticou as demais normas relativas ao assunto, como uma portaria do MEC que determina que apenas 20% da carga horária de cursos superiores possam ser a distância.
– A legislação hoje inibe e desestimula a educação a distância. Basta ver o ridículo percentual: pode fazer 20% a distância. Não existe isso em nenhum país do mundo. Os países que fazem educação a distância de boa qualidade não têm legislação, têm marcos legais muito genéricos – comparou.
O senador Cyro Miranda também criticou o fato de o PNE para o período de 2010 a 2020 ter sido aprovado apenas em 2014. Ele falou que algumas metas do plano deveriam ser obrigatoriedades, como a expansão do ensino integral, por exemplo.
Mooc
Os Cursos Massivos Abertos Online (Mooc’s, na sigla em inglês) foram citados pelos debatedores como o caminho para a expansão da educação a distância no Brasil. O Mooc, que surgiu nos Estados Unidos em 2011 e começou no Brasil em 2012. Ele é um curso gratuito, online e feito para um número ilimitado de alunos.
Segundo o assessor do MEC, 29% dos cursos de educação superior no país são a distância e, de acordo com o consultor Edelvício Souza, apesar do atraso brasileiro no uso da educação a distância, 15% dos universitários já fazem curso online no país.
– O brasileiro, por mais dificuldade de idioma que tenha, já é o terceiro maior público do Coursera, que é o maior Mooc do mundo – afirmou Souza.
Para o diretor-geral da MGB Serviços e Computadores, Mauro Farias Dutra, o Mooc tem a possibilidade de quebrar o ciclo vicioso de professores mal pagos porque são pouco qualificados. Ele defendeu a proposta do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) de federalizar a educação básica.
Dutra também defendeu a chamada “Educação Blended”, que mistura o ensino presencial com o ensino a distância, utilizando os Mooc’s, e a qualificação dos professores para o uso da tecnologia na educação. Para o empresário, deveria haver um modelo de escola digital em que o ensino seria feito em período integral com um turno na escola e outro turno em casa com o auxílio dos Mooc’s.
Na opinião de Cristovam, é preciso haver uma revolução na educação brasileira para que ela seja online.
– Não tem mais como considerar a escola uma sala com professor e aluno usando quadro negro. Não tem mais como considerar que universidade tenha endereço geográfico, e não endereço eletrônico. Tem que haver uma revolução – disse.
Fonte: Agência Senado