Nem o clima tenso que antecede a Copa nem a perspectiva de reedição de grandes manifestações populares obscurecem o otimismo do sociólogo italiano Domenico De Masi. Para o autor do livro O Futuro Chegou, que participou ontem de uma audiência pública no Senado, este é o momento do Brasil. Segundo ele, o país pode oferecer a um “mundo desorientado” um novo modelo de vida.
Em 1930, recordou o sociólogo, foi dito pela primeira vez, por um personagem do livro País do Carnaval, de Jorge Amado, que o Brasil seria o país do futuro. Uma década depois, prosseguiu, foi a vez de o autor austríaco Stefan Zweig usar a expressão no título de um livro. Agora, compara o italiano, o Brasil tem o sétimo maior produto interno bruto (PIB) do planeta e conta com grandes intelectuais e universidades.
— O futuro chegou. Este é o futuro — disse ele na audiência, organizada pela Comissão Senado do Futuro e pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE).
Ele elogiou o escritor Gilberto Freyre por ter dito que nunca gostaria de ser “completamente maduro, mas sim experimental e incompleto”. Em sua opinião, a busca constante pelo conhecimento é uma das boas características do “modelo brasileiro”. Também citou a mestiçagem, num mundo de conflitos raciais, e a contemplação da beleza.
Para ele, o arquiteto Oscar Niemeyer, com suas curvas, definiu o espírito brasileiro ao contestar o racionalismo do arquiteto suíço Le Corbusier, que havia defendido a linha reta.
— O Brasil nunca fez uma guerra contra seus vizinhos, com exceção do Paraguai. E, enquanto nós fazíamos guerras na Europa, o que faziam os índios no Brasil? Faziam arte, pintando o corpo da mulher amada — comparou De Masi.
Provocado por Cristovam Buarque (PDT-DF), criticou os intelectuais por não formularem um novo modelo de referência para as sociedades em um período pós-industrial. Em sua opinião, perderam a coragem e não se arriscam sobre novos paradigmas.
Ana Rita (PT-ES) e Inácio Arruda (PCdoB-CE) lembraram as campanhas sindicais em defesa da redução da jornada de trabalho, atualmente de 44 horas semanais. De Masi, como regra geral, defendeu 15 horas.
— O trabalho é um vício, não uma virtude. Um vício imbuído pela religião para compensar o pecado original. No paraíso não se trabalha — disse De Masi.
Ele concordou com Eduardo Suplicy (PT-SP) quanto à importância de programas de renda básica e criticou os ricos que não dividem a riqueza.
— Conheci ricos no Brasil que viviam cercados de seguranças. Perguntei por que não pagavam impostos maiores, para que não precisassem de seguranças. Na Itália também existem ricos, mas os perigos são mínimos — comparou.
Fonte: Jornal do Senado